A falta de tempo parece ser uma constante na nossa vida, depois de uma certa idade.
Quando crianças, nós brincamos despreocupados, vamos à escola, fazemos nossas tarefas, ajudamos em casa… e o tempo parece ser loooongo. Me lembro bem da sensação de tédio em alguns dias de chuva, quando não dava pra brincar na rua. O tempo corria devagar.
Acontece que depois de uma certa idade, o tempo parece ser infinitamente menor e mais corrido para todo mundo. Acho que pra mim, começou durante a faculdade. Eu trabalhava de dia e estudava de noite. Trabalhava e saía correndo na hora que o relógio batia 17 horas, pois queria chegar em casa, tomar um banho e tirar um cochilo de 15 minutos, antes da van da faculdade chegar. Às vezes não dava tempo.
E era tudo tão corrido. Chegava em casa perto das 23 horas, ia dormir cerca de 1 da manhã e acordava no dia seguinte às 7 para começar tudo de novo.
Depois que terminei a faculdade, parece que eu já tinha viciado nesse ciclo insano. Sempre arranjava mil coisas para fazer depois do trabalho e nunca dava tempo de fazer nada, de verdade. A sensação era sempre a mesma: “não dá tempo!”.
No trabalho, aquele corre-corre para fazer tudo em dia, para não deixar nada acumular. E sempre acumulava. E aí eu levava trabalho pra casa e ficava horas tentando botar tudo em ordem, toda semana. E não dava tempo de mais nada.
Acumulei projetos, responsabilidades e vontades. Sempre pensando: “quando der tempo, vou fazer isso”.
Engravidei. Minha gravidez foi ótima, sem nenhuma intercorrência, nem dias de trabalho perdidos. Trabalhei muito durante toda a gravidez e não tive tempo para curtir a barriga, o ‘momento grávido’, as sensações tão novas e diferentes. Via minha barriga crescendo, dava um jeito de encaixar todas as consultas e fazer todos os exames, esticava mais no trabalho para compensar. E a gravidez passou voando. Quando eu vi, já estava com meu filho nos braços.
Eu tinha tantos planos, quando mais jovem, sobre a gravidez. Pensava que ia conversar bastante com o bebê, colocar músicas para ele ouvir, meditar, estudar muito sobre todos os assuntos que envolvessem a maternidade. Doce ilusão!
Meu filho nasceu e peguei 6 meses de licença maternidade, emendando com 1 mês de férias. Tive muita sorte de trabalhar em uma empresa que concede os 6 meses e que não achou ruim de eu emendar mais um, pelo contrário. Ao final dos 7 meses, também ganhei mais 1 mês de licença não remunerada para decidir se voltaria ou não. 8 meses com o bebê em casa, que maravilha! <3
Decidi não voltar ao trabalho por vários motivos. O principal, é claro, era poder estar perto do meu filho, acompanhar seu desenvolvimento, descobrir junto com ele, participar ativamente de sua educação. E eu tenho feito isso, desde então. Hoje ele está com 2 anos e 6 meses.
Mas analisando esse tempo todo que passou, eu pude perceber o quanto eu poderia ter aproveitado MAIS todo esse tempo.
Tem gente que vai pensar: “nossa, mas que exagero! não se cobre tanto!”.
Mas eu digo, com convicção, que não é auto-cobrança, ou sentimento de culpa. É bem diferente disso. É um sentimento de que eu POSSO ser melhor, primeiro para mim e depois para o meu filho.
Revisando esse ano, eu vejo quanta coisa eu inventei, em quanta coisa gastei meu tempo inutilmente, muitas vezes sacrificando justamente o meu tempo com ele, que é o motivo de tudo. E quando paro para pensar nisso, começo a perceber como nós, seres humanos, temos tendência a nos deixar distrair com coisas que não trazem nenhum crescimento pessoal e espiritual para nós. Estamos sempre correndo atrás de fazer coisas, na maioria das vezes, inúteis.
Damos prioridades para as coisas erradas.
A infância de nossos filhos vai passar em um estalar de dedos. Daqui a pouco, vamos acordar de manhã e vamos pensar: “Hoje vou ligar para meu filho para saber como ele está. Já faz alguns dias que não nos falamos e estou com saudades…”
E nosso filho estará lá, correndo, sem tempo e passando por boa parte do que já passamos. E vamos sentir saudades, muuuitas saudades daquele dia que acordamos um pouquinho mais tarde por causa da noite horrorosa que tivemos juntos. Vamos sentir saudades de tê-lo agarradinho na gente, com aquele cheirinho único e inesquecível.
Vamos sentir saudades daquele dia que dançamos com o nosso filhote, enquanto ele gargalhava com os movimentos; e a gente não aguentava mais segurá-lo porque, poxa, como ele tá pesado!!!
Vamos sentir saudades daquele dia que fomos no parque e ficamos olhando uma família de patinhos na lagoa, enquanto ele estava todo admirado. E vamos sentir ainda mais falta de todos os momentos que não passamos juntos.
Será que faz algum sentido a gente trocar esses momentos, tão preciosos, tão breves e raros por um trocadinho a mais no fim do mês? Ou então por uma satisfação pessoal imediata, ao conseguir tempo para jogar aquele joguinho no celular?
Será que faz sentido a nossa frustração diária por não conseguir fazer um curso, ou terminar um projeto, ou ir viajar, ou jogar futebol com a turma, ou tomar um chopp com os amigos?
Do que sentiremos falta no futuro? Do jogo de futebol não jogado, do curso não feito, do projeto não finalizado ou da gargalhada do nosso filho, já tão distante na memória?
Nós priorizamos as coisas erradas, quase o tempo inteiro. E quando priorizamos as certas, estamos pensando nas erradas. Estamos brincando com nossos filhos e pensando: “pôxa, queria ter tempo para fazer aquela outra coisa!”, ou estamos colocando-os para dormir e pensando: “caramba, dorme logo! preciso responder aquele e-mail!”.
Claro que temos outras necessidades e que precisamos cumpri-las. Mas também precisamos aprender a aproveitar mais o momento que temos com nossos filhos. Ser PRESENTE para aquele momento. Aproveitar o que estamos fazendo ali, naquele instante. Estamos fazendo exatamente o que deveríamos estar fazendo, principalmente quando estamos com eles.
Quando trabalhar é essencial para a sobrevivência da família ou para a sanidade mental da mãe e do pai, a solução é trabalhar centrado e presente naquele momento e estar completamente presente quando estiver junto do filho. O que acontece, com a maioria de nós, é que estamos trabalhando e pensando que deveríamos estar com os filhos. Quando estamos com os filhos, estamos pensando nos problemas do trabalho (ou outros problemas e pendências). Estamos SEMPRE distantes da realidade, com a sensação de que falta tempo.
Mas o que nos falta, verdadeiramente é prioridade e presença.
E nós continuamos repetindo esse padrão, o tempo todo. Quando os filhos crescem, passamos a “ter tempo” novamente. Mas logo estaremos outra vez atolados de coisas que queremos fazer e não conseguimos. E quando conseguirmos fazer uma delas, estaremos pensando na próxima e na próxima e na próxima. Enquanto checamos o Facebook, postamos tudo no instagram e respondemos os grupos de whatsapp. No fim, não teremos aproveitado de novo.
E aí o tempo vai passar e provavelmente chegará o momento em que nós teremos que cuidar dos nossos pais. E faremos isso pensando: “putz, que canseira! queria tanto viajar esse ano, mas com os ‘velhos’ não tem jeito”. E passaremos os últimos anos das vidas deles, pensando o quanto poderíamos aproveitar se não tivéssemos que cuidar deles.
E quando chegar a hora da despedida – ela sempre chega! – esses anos que eles passaram como nossos dependentes parecerão tão curtos, tão breves… tão gostosos. Vamos pensar em tudo o que deixamos de fazer para eles, em todas as conversas que deixamos de ter, em todas as vezes que fomos impacientes.
Crianças e idosos deveriam ser os Reis e Rainhas das nossas vidas e das nossas casas.
O tempo que passamos com eles é curto demais, sempre. E ao invés de aproveitarmos, estamos sempre ocupados demais, atolados demais, cansados demais… distantes demais.
São momentos que vão passar em um sopro, dos quais sentiremos muita falta para sempre.
Vamos aproveitar tudo enquanto há tempo! Tudo parece tão óbvio e ao mesmo tão difícil de mudar, não é?
Mas agora é fim de ano, hora de repensar tudo e ver onde podemos melhorar. Ao invés de pensar em resoluções para o ano novo, esse ano vou focar em uma palavra: PRESENÇA.
Esse ano eu quero estar PRESENTE em tudo o que estiver fazendo. Principalmente para meu filho e para as pessoas que amo. O melhor da vida é estar perto de pessoas queridas, fazer o que a gente gosta e Viver. É isso que vai ficar guardado no nosso coração, no final das contas. Então vamos aproveitar e sentir, verdadeiramente, o momento.
PRESENÇA.
– Um Feliz Ano Novo (de verdade!)
Foto minha e do meu filhote, clicada pela Anna Grecco.
Você gostou desse artigo?
Que tal financiar outros artigos de qualidade, como esse, doando qualquer quantia?